NO ESCURINHO
DO CINEMA
Inaugurado
em meados da década de 40 do século passado, o Cine-Teatro da Lousã é um dos
ex-libris da vila, uma verdadeira referência para muitas gerações que passaram
pelos bancos da plateia e balcão da sala, vibrando com as peripécias dos
quilómetros de películas projectadas no ecrã dos sonhos.
Para mim, o Cine-teatro é uma das referências incontornáveis da minha infância e adolescência lousanenses. Foi no “escurinho” daquele sala que primeiro despertei para a magia da “sétima-arte”. Verdadeiro embrião de uma das paixões que conduziu grande parte da minha vida: o cinema.
Para mim, o Cine-teatro é uma das referências incontornáveis da minha infância e adolescência lousanenses. Foi no “escurinho” daquele sala que primeiro despertei para a magia da “sétima-arte”. Verdadeiro embrião de uma das paixões que conduziu grande parte da minha vida: o cinema.
Antes do 25 de Abril, ir ao cinema era quase
um luxo, que obrigava muita gente a apertadas poupanças para nos sábados e
domingos à noite não perderem o seu lugar na descoberta dos tramas dramáticos,
românticos ou guerreiros, quase todos made in Hollywood, que desfilavam naquele
pano branco, transformado em verdadeiro palco de todas as aventuras.
Para mim, as
noites de domingo eram mágicas, sentado com os meus pais sempre na primeira
fila do balcão. Enquanto aluno da escola primária esses emocionantes momentos
eram mais raros, pois aquela danada indicação que “este filme é interdito a
menores de 12 anos” deixava-me em casa e à beira de uma crise de nervos. Por
vezes, tanto insistia que o meu pai, cinéfilo, e conhecedor que o filme nem era
“dois piores para as crianças”, lá fazia sinal ao porteiro para me deixar entrar
com ele. Lá vibrei com intermináveis duelos em heróicas cobóiadas; perseguições
de carro a 100 à hora; gritos de Tarzan na Selva ou fantásticos golpes de
espadachim de piratas ou do Zorro!
Mas nem só
de cinema se enchem as minhas felizes memórias do Cine-teatro da Lousã. Foi ali
que vi com os meus pais uma peça teatro, “Aqui Há Fantasmas”, com Raul Solnado,
que, recordo bem, foi um verdadeiro acontecimento na vila, com a presença da
trupe lisboeta a gerar grande entusiasmo. Mas foi também naquela sala que ouvi
chamar pelo meu nome para ir receber o prémio de Melhor Aluno da escola. E,
queira-se ou não, isto é uma daquelas coisas que não se esquecem…
Após o 25 de
Abril, e numa altura em que outras salas de cinema semelhantes espalhadas por
vilas e pequenas cidades da província viam os seus cinemas a entrarem em
declínio e mesmo a fecharem as portas, o Município da Lousã soube arregaçar as
mangas para reabilitar a sala que chegou a estar fechada, ameaçada de morte,
durante algum tempo.
Hoje, a
situação é ainda mais singular, pois os tradicionais cinemas deram lugar as
várias pequenas salas de exibição, a maioria em centros comerciais – essas novas
Mecas da sociedade de consumo moderna.
Mas o “nosso”
Cine-teatro lá está, a resistir de pé, orgulhoso e altivo pronto para mostrar
mais fitas de celulóide, mas também para receber outras artes como o teatro, a
música e dança.
Américo
Mascarenhas
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