domingo, 13 de julho de 2014

palavra de anarca


Pátria, apenas uma palavra

Não é noção, não é nada

Palavra gasta, sem razão de ser

Apenas dos incrédulos, dos rarefeitos

E cheia de sangue e ódio

Escreve-se para espezinhar

Para mais alto por os iguais dos outros

 

Letras a soar de foguetes

Para impor a fome às punhetas

Escrita por calcinhas fedorentas

E animais pré-históricos por desejos

Sem pausa das pernas medievais

Tu, ninguém de que do nada vem

 

Linha, circulo, evolução de linhas

Som do vácuo do cruel pináculo

Sem tempo, escrita da morte, vento

De quem quer mandar para a orgia

Vazia na nulidade da não vida

Apagada da própria matéria

 

O prazer da vida não se gasta

É do início para o fim sem nunca ser

É de todos como as guilhotinas

Do céu azul aprisionado

Não é imagem do saber

Porque por ti que serias todos

Não existem, javardos, nulidades

 

Da ignorância, da pocilga do poder

Das ratas, das varejeiras das larvas

Nos esqueletos vivos putrefatos

Da violência genética dos brutos

Dos vómitos comuns à parvoíce

Da parição da anormalidade

Dos vergados na humildade ajoelhada

 

Da guerra no campo de batalha

A várias vozes se decepam

Esguicham sangue e ficam mutilados

Os gritos de dor e de morte

Sem tempo de vitória e apenas destruição

Correm pelos campos de cadáveres

Mulheres violadas em nome do caos

 

Vergonha ninguém tem, tu palavra

Dos vergados, dos esfomeados

Dos aniquilados e dos amordaçados

Essas elites do esterco da desigualdade

Usam o que não és, tu ar de respirar

Da tua violência a cada letra

Para impor o betão tumular

 

Para minorias se banquetearem

E na dor a multidão escravizarem

Como pretexto do fim do Mundo

Da vingança insana do poder

Nas mãos incógnitas de macacos

E prostitutas maníacas de sangue

Tu, palavra amarela de sujidade

Desaparece das palavras, morre!

já passou um ano

                                                                        cartoon 18-07-2014

os servos

                                                                  cartoon 19-05-2012

terça-feira, 8 de julho de 2014

sem fundo...
NO ESCURINHO DO CINEMA
Inaugurado em meados da década de 40 do século passado, o Cine-Teatro da Lousã é um dos ex-libris da vila, uma verdadeira referência para muitas gerações que passaram pelos bancos da plateia e balcão da sala, vibrando com as peripécias dos quilómetros de películas projectadas no ecrã dos sonhos.
 Para mim, o Cine-teatro é uma das referências incontornáveis da minha infância e adolescência lousanenses. Foi no “escurinho” daquele sala que primeiro despertei para a magia da “sétima-arte”. Verdadeiro  embrião de uma das paixões que conduziu grande parte da minha vida: o cinema.
 Antes do 25 de Abril, ir ao cinema era quase um luxo, que obrigava muita gente a apertadas poupanças para nos sábados e domingos à noite não perderem o seu lugar na descoberta dos tramas dramáticos, românticos ou guerreiros, quase todos made in Hollywood, que desfilavam naquele pano branco, transformado em verdadeiro palco de todas as aventuras.
Para mim, as noites de domingo eram mágicas, sentado com os meus pais sempre na primeira fila do balcão. Enquanto aluno da escola primária esses emocionantes momentos eram mais raros, pois aquela danada indicação que “este filme é interdito a menores de 12 anos” deixava-me em casa e à beira de uma crise de nervos. Por vezes, tanto insistia que o meu pai, cinéfilo, e conhecedor que o filme nem era “dois piores para as crianças”, lá fazia sinal ao porteiro para me deixar entrar com ele. Lá vibrei com intermináveis duelos em heróicas cobóiadas; perseguições de carro a 100 à hora; gritos de Tarzan na Selva ou fantásticos golpes de espadachim de piratas ou do Zorro!
Mas nem só de cinema se enchem as minhas felizes memórias do Cine-teatro da Lousã. Foi ali que vi com os meus pais uma peça teatro, “Aqui Há Fantasmas”, com Raul Solnado, que, recordo bem, foi um verdadeiro acontecimento na vila, com a presença da trupe lisboeta a gerar grande entusiasmo. Mas foi também naquela sala que ouvi chamar pelo meu nome para ir receber o prémio de Melhor Aluno da escola. E, queira-se ou não, isto é uma daquelas coisas que não se esquecem…
Após o 25 de Abril, e numa altura em que outras salas de cinema semelhantes espalhadas por vilas e pequenas cidades da província viam os seus cinemas a entrarem em declínio e mesmo a fecharem as portas, o Município da Lousã soube arregaçar as mangas para reabilitar a sala que chegou a estar fechada, ameaçada de morte, durante algum tempo.
Hoje, a situação é ainda mais singular, pois os tradicionais cinemas deram lugar as várias pequenas salas de exibição, a maioria em centros comerciais – essas novas Mecas da sociedade de consumo moderna.
Mas o “nosso” Cine-teatro lá está, a resistir de pé, orgulhoso e altivo pronto para mostrar mais fitas de celulóide, mas também para receber outras artes como o teatro, a música e dança.

Américo Mascarenhas

quarta-feira, 11 de junho de 2014


A abstenção mudou-se

Mudou-se para outra dimensão

Ficou rica, foi de férias

Quem a pé foi votar

Integrou o imenso esquadrão

A multidão que caminha para a morte

 

Mas a abstenção já foi

De férias para o eterno

De coisa nenhuma faz contas

Afinal para quê?

A plenitude do céu azul

Sob as mãos do esquadrão

 

E tu Ocidente velho

Quem é a tua voz reacionária?

Onde está a liberdade?

É o teu querer populaça, a desgraça

A morte prematura do filósofo

A festa em mórbido silêncio

E a ordem sob a ameaça das armas

 

Nunca nos veremos nas bestas

Nos maus vinhos da violência

Nos sentimentos reles

Na consanguinidade mais reprodutiva

Rebentemos os nossos peitos

No amor clandestino e perverso

segunda-feira, 2 de junho de 2014

                                          Acaba a primavera e ficam os momentos